Existem inúmeras medidas de prevenção da transmissão do Coronavírus, mas tenho encontrado pouca informação sobre aquela que é a melhor forma de nos mantermos protegidos: fortalecer o sistema imunitário.
Este é o primeiro de vários artigos com dicas práticas para fortalecimento do sistema imunitário. Neste primeiro post, deixo algumas sugestões sobre como uma alimentação simples, integral e com comida de verdade pode fortalecer a nossa saúde.
As informações que vou partilhar nesta série de artigos têm por base a minha experiência pessoal com saúde natural, Macrobiótica, Ayurveda e outras tradições.
Como alguns sabem, nasci numa família Macrobiótica, tendo feito esta alimentação e estilo de vida desde sempre (claro que com adaptações às diferentes circunstâncias da minha vida).
Para além da experiência prática (em mim), as formações que fiz – muitas com discípulos directos de Michio Kushi – e as (muitas) viagens ao Oriente que tenho feito, têm-me permitido ter contacto com diferentes ensinamentos.
Uma grande questão: sabemos realmente o que comemos?
Quando explico o que é a Macrobiótica a alguém que não faz nem de perto, nem de longe o que é este tipo de alimentação, muitas vezes ouço “ah, mas então eu já faço quase essa alimentação”.
O mesmo para o leite e para os seus derivados: quantas pessoas acham que não ingerem leite há anos, mas continuam a consumi-lo indirectamente em bolos, pão, produtos processados, etc?!
Talvez nunca como agora seja tão importante reflectirmos sobre se sabemos realmente aquilo que ingerimos e se nos estamos a nutrir convenientemente. Isto se quisermos fortalecer o nosso sistema imunitário.
Temos realmente consciência de como é verdadeiramente a nossa alimentação?!
Dez dias, um exercício (e não é a famosa dieta do arroz integral)
Uma boa forma de começarmos a ter uma real percepção daquilo que ingerimos, é analisarmos minuciosamente aquilo que comemos durante dez dias. Não só os alimentos, mas também todos os seus ingredientes.
Se acharmos este exercício interessante, podemos anotar tudo aquilo que comemos durante dez dias:
- Alimentos (ex. pão com manteiga de amendoim);
- Sub-produtos (os ingredientes que compõem os alimentos que ingerimos);
- As quantidades aproximadas;
- Os horários a que fazemos as refeições;
- Como está a funcionar o nosso sistema digestivo (quantas vezes fomos à casa de banho – urina e fezes – e registo da cor, forma, aparência, odor, etc.);
- Estado geral físicio;
- Estados mentais associados (como nos sentimos nesse dia).
Este exercício de 10 dias – que é o tempo que demora a renovar o nosso plasma sanguinio e por conseguinte a fortalecermos o nosso sistema imunitário -, pode dar-nos uma visão mais precisa e aproximada à realidade.
É que muitas vezes a alimentação que realmente fazermos não é exactamente aquela que julgamos fazer. E sem conhecermos realmente o que comemos e os efeitos de cada alimento, não podemos alterar hábitos, nem fortalecer o nosso sistema imunitário.
Precisamos de (re)aprender a comer de forma mais integral e natural
Depois de analisarmos a nossa alimentação, podemos então fazer as alterações que considerarmos adequadas, de forma mais consciente, partindo de uma base clara e realista.
Mas antes disso, é muito importante recorrer a um consultor credível (neste momento pode ser difícil presencialmente, é sempre possível pelo telefone ou skype). Deixo algumas sugestões: Instituto Macrobiótico de Portugal, Bill Tara e Marlene Watson-Tara (em inglês), Prof. Kazuo Kon e Nuno Félix Teixeira.
Cada um destes consultores, encaixará mais ou menos com as diferentes personalidades. E é esta pessoa que irá dar orientações para que possamos fazer alterações de forma sustentada e mais facilmente. Por isso, é importante fazermos uma escolha acertada.
Também é preciso estudar
Para além disso, é muito importante estudarmos por nós próprios. A vantagem de toda a situação de isolamento social que estamos a viver, é que muitos de nós têm agora mais tempo disponível.
Podemos aproveitar este tempo precioso para aprendermos a comer e a usar os alimentos para mantermos ou recuperarmos a saúde e fortalecermos o nosso sistema imunitário. Nada melhor do que sabermos, para fazermos escolhas informadas, em vez de estarmos completamente dependentes de outros.
Se nos anos 70 a minha mãe, aprendeu sobre Macrobiótica sozinha, através de um estudo minucioso de vários livros, hoje estando tudo mais facilitado, quem tiver real motivação, consegue muito mais facilmente ter acesso a informações credíveis.
Francisco Varatojo, que pode ser considerado como o pai da Macrobiótica em Portugal, foi uma pessoa brilhante, com grande sabedoria e dom para o diagnóstico. Deixou alguns audios, város livros editados e muitos artigos de leitura fácil.
Livros e artigos úteis
Se considerarem interessante, podem começar por ler este artigo onde encontram preciosas informações sobre a Alimentação Padrão Macrobiótica. Nesse mesmo site, do IMP – Instituto Macrobiótico de Portugal, encontram vários outros artigos extremamente úteis e esclarecedores.
Para além destes artigos, o Francisco deixou vários livros, entre eles Os Alimentos Também Curam e Mente Sã em Corpo São, assim como os Cadernos de Macrobiótica (comercializados pela Provida) e até alguns audios. Aqui encontram uma lista com todos os seus livros editados.
Se preferirem livros mais densos, directamente da “fonte” – dos mestres George Ohsawa, Michio Kuchi e Tomio Kikuchi -, podem pesquisar online as publicações que estão disponíveis em segunda mão (no OLX, por exemplo, tem bastantes). Livros novos, existem poucos disponíveis, mas ainda é possível encontrar alguns.
Para aprenderem a fazer as receitas, o’Livro A Cozinha da Marta, da Marta Varatojo, assim como os livros da Geninha Varatojo e os livros da Natália Rodrigues, são aqueles que uso mais. Para além de receitas, têm outras informações muito úteis e sugestões de menus. Mas é preciso estudar bastante antes a teoria, antes de passar à pratica.
As bases de uma boa alimentação (que fortalece o sistema imunitário)
A alimentação Macrobiótica é a mais adequada que conheço à nossa condição humana, e ajustada ao nosso clima. É, aliás, uma aproximação à forma como os antigos comiam. Não é nada mais do que aprender a usar os alimentos em benefício da nossa saúde.
A alimentação Ayurveda também é excelente (e tem muitos pontos comuns com a Macrobiótica), mas não penso ser a adequada para o nosso clima. Quando falo em Ayurveda, falo na alimentação tradicional e não nas adaptações que têm sido feitas.
Em todo o caso, os pontos mais importantes – se não os mais -, comuns penso que a todas as tradições, para que a alimentação seja nutritiva, são:
- Baseada em “comida de verdade”;
- À base de produtos integrais (em detrimento dos industrializados e processados);
- Com ingredientes locais;
- Com produtos biológicos;
- O mais compassiva possível (sem produtos de origem animal);
- Nas proporções correctas;
- Cozinhadas de forma a preservar os nutrientes;
- Refeições simples (e sem ficarmos enfartados).
Somos o que comemos
A alimentação que fortalece o sistema imunitário é aquela que nutre e que permite ao nosso organismo estar “limpo” e criar boas defesas. A melhor forma de nos protegermos, é sem dúvida fortalecendo o nosso sistema imunitário, também através do que entra pela nossa boca.
Este é o momento de comermos cereais integrais, leguminosas, legumes, pequenas quantidades de algas e de frutas e produtos fermentados.
Não é de todo o momento para comermos produtos lácteos (mesmo que sejam de origem vegetal), produtos refinados, processados, etc.
O açúcar (e outros adoçantes), as frutas e os legumes tropicais (para quem não está em países tropicais), as gorduras, os enlatados, os empacotados, os derivados de origem animal, a carne, o peixe que não seja branco, os refrigerantes, os sumos (até os naturais), o excesso de líquidos e de fruta, os farináceos, etc etc etc… devem ser evitados, idealmente completamente eliminados.
Neste vídeo, encontram uma explicação muito breve, mas eficaz do que é a alimentação Macrobiótica:
Para concluir, se quiserem saber mais sobre alimentação podem também consultar este artigo que publicámos sobre alimentação consciente.
E aproveitem a conjuntura actual: é uma excelente oportunidade para (re)aprendermos a alimentarmo-nos convenientemente. O que se traduz inevitavelmente em fortalecimento do nosso sistema imunitário, que é a melhor forma de enfrentarmos este vírus.
Até breve!
*continua no próximo artigo