O ambiente em que fazemos as refeições, a quantidade de comida que ingerimos e a forma como a mastigamos e a ensalivamos, são factores que contribuem para fortalecer ou enfraquecer o sistema imunitário. E é disso que vamos falar hoje: ambiente à mesa, comer menos, jejum e mastigação correcta.
Comer o líquido e beber o sólido
Quando eu era pequena, a minha mãe dizia-me sempre para comer o líquido e beber o sólido. Isto significava mastigar 100 vezes – o que para mim, claro está, era impossível. Mas para ela também (ahah). Brincadeiras à parte, é mesmo importante mastigar muito bem.
Mas também é importante ser realista e eu vou ser muito sincera: a verdade é que mesmo sabendo disto tudo e tendo crescido numa família com estas preocupações, nunca conheci ninguém que comesse mais rápido do que eu (e que, por conseguinte, mastigasse tão mal os alimentos). Não tenho orgulho nisso e tenho tentado comer devagar e mastigar melhor, mas mesmo assim, não é fácil.
De qualquer forma, se quiserem fazer o que eu digo e não o que eu faço 🙂 a minha sugestão é:
- Para mastigar e ensalivar os alimentos sólidos até que estes se tornem líquidos, se mastigarmos cada garfada 10 ou 20 vezes, é bastante razoável (o Francisco Varatojo recomendava 30).
- O segredo é comer lentamente, cultivar a atenção à refeição e pousar os talheres entre garfadas.
- Não engolir os líquidos vorazmente, mas aquecê-los um pouco na boca, ensalivando-os, até ficarem mornos.
Como Francisco Varatojo escreveu (artigo completo aqui):
“O processo da digestão começa na boca (na realidade, para ser verdadeiramente exacto, começa quando começamos a ver e a cheirar os alimentos) e nesta, por acção da saliva e duma enzima específica existente na mesma, a ptialina, começamos a desdobrar os hidratos de carbono complexos em hidratos de carbono mais simples.
É essa a razão, pela qual quando mastigamos muito tempo, por exemplo, uma cenoura ou arroz, estes vão ficando cada vez mais doces. Se a digestão na boca se der adequadamente, os alimentos são a seguir digeridos no estômago, onde as proteínas começam a ser desdobradas em aminoácidos, por acção da pepsina e do ácido clorídico.
Mais abaixo, no duodeno, por acção dos sucos pancreáticos e biliares digerimos as gorduras e na fase final da digestão, no intestino delgado, finalizamos a digestão dos diferentes nutrientes.
Para que o processo digestivo se dê com uma grande eficácia, é vital que os alimentos sejam bem mastigados e ensalivados; os orientais consideram que a saliva é um líquido fortemente carregado com energia electromagnética e que tem propriedades curativas, pelo que devemos fazer um esforço para ensalivar bem os alimentos ingeridos.
Uma mastigação e ensalivação cuidadas trazem enormes benefícios para a saúde.”
Começar a comer com calma e mastigar bem alimentos é uma boa ideia, que pode trazer muitos benefícios para o processo digestivo e para o nosso sistema imunitário.
Horários das refeições, postura, utensílios e ambiente à mesa
Para além da mastigação, os horários a que comemos, o ambiente em que o fazemos, a nossa postura e até os materiais que usamos para o fazer, são muito importantes para a nossa saúde e sistema imunitário. Assim:
- O ideal é fazermos as refeições sempre à mesma hora e muito mais cedo do que o tradicional em Portugal: o almoço pelas 12:00 e o jantar nunca menos de 3 horas antes de nos deitarmos (pelas 18:00, seria o ideal).
- Nunca comer em pé, no sofá ou na cama, mas sempre sentado (à mesa ou como os ocidentais, no chão).
- Os utensílios usados à refeição, devem ser de louça ou em bambu, os palheres em inox (ou então pauzinhos – os hashis).
- A comida deve ser servida de forma cuidada (afinal os olhos também comem).
- O ambiente deve ser organizado, limpo e tranquilo, sem televisão, telemóvel, música, computador, etc.
- A família deve fazer toda a mesma alimentação (podendo adequar as proporções à condição de cada um). E as refeições devem ser tomadas em conjunto.
Comer menos (ou a quantidade certa)
De uma forma geral comemos demais. Na realidade, muitas vezes não comemos para nos alimentarmos (apenas) fisicamente, como suposto. E isso enfraquece o nosso sistema imunitário.
Comemos para saciar a fome emocional, comemos porque é hora do pequeno-almoço, do almoço, do lanche, do jantar, comemos por motivos sociais, por hábito, por vício, porque sim,… enfim, um sem número de razões não relacionadas com nutrição.
Quantas pessoas da sociedade em que vivemos é que conhecemos que tenham morrido de fome?! E se a pergunta for de excesso de comida…?
Em Portugal morre-se mais de excesso de comida (e de má alimentação) do que de fome. Mesmo segundo o prisma da medicina convencional muitas doenças estão directamente associadas à alimentação, tais como diabetes, cancro, doenças auto-imunes, obesidade, etc. etc. etc.
Mas a comida supostamente deveria servir para nutrir o nosso corpo e para nos manter saudáveis.
Posto isto, temos margem – e motivos mais do que suficientes – para: comermos em menos quantidade; quando temos realmente fome; alimentos nutritivos. Isso vai-se transformar, sem dúvida, em mais energia, vitalidade, fortalecimento do sistema imunitário, apetite pela vida e força mental.
Para além disso, ao comermos em demasia, estamos a “roubar” comida aos outros. Sim, isto é verdade. E é bastante visível em tempos como os que vivemos actualmente: quem tem mais dinheiro vai ao supermercado e limpa as prateleiras, para armazenar comida em casa. E quem tem menos?!
Quantos de nós é que já se preocuparam alguma vez quando iriam ter possibilidade de fazer a próxima refeição?! Isto dá que pensar. Há pessoas no mundo que não sabem quando é que vão voltar a comer. Somos os mais afortunados do planeta, temos uma despensa cheia de comida em casa. Mas isso acarreta uma grande responsabilidade
Ao diminuirmos a quantidade de comida que consumimos, estamos a contribuir para que haja mais comida para outros (não só a nível local, mas a nível mundial) e para que o impacto ambiental inerente à alimentação diminua. A nível pessoal, estamos a poupar tempo e dinheiro e estamos a fortalecer a nossa saúde e por conseguinte o nosso sistema imunitário.
Devemos terminar as refeições antes de estarmos completamente enfartados, deixando algum espaço livre no estômago. E também devemos ouvir o nosso organismo e comer quando temos realmente fome.
O poder curativo e desintoxicante do jejum
Passar pelo menos 12 horas por dia sem comer, entre o jantar e o pequeno-almoço, e, até, fazer jejum uma vez por semana, são práticas que podem fazer milagres pela nossa saúde física, mental e – até – espiritual.
Mas se estas ideias nos parecerem demasiado, podemos começar por deixar de comer entre o jantar e a hora de deitar. Ainda mais agora que, se estivermos em casa, gastamos ainda menos energia do que o habitual.
Se precisarmos de argumentos: basta pensarmos que quando estamos doentes a recomendação dos antigos é comer pouco e comidas muito simples, para deixar o corpo desintoxicar e curar-se a si próprio. Aliás, muitas vezes quando estamos doentes perdemos o apetite. E não é apenas a nós, humanos, que isso acontece: os animais também fazem jejum quando estão doentes. Quem tem cães em casa, sabe disso.
Na Macrobiótica e na Ayurveda e noutras tradições orientais, o jejum é uma prática normalíssima, de purificação espiritual, mental e física. O jejum permite desintoxicar e fortalecer. Na Macrobiótica existe até a famosa dieta dos 10 dias, à base de arroz integral, que eu já fiz várias vezes – incluindo em criança – e tem efeitos extraordinários.
Se estiverem interessados neste tema, pesquisem mais sobre jejum. Os autores George Oshawa, Tomio Kikuchi e Michio Kushi e os ensinamentos da Macrobiótica e Ayurveda explicam muito bem este assunto.
Nos posts anteriores encontram outras dicas para fortalecerem o sistema imunitário.