Sabiam que a Macro Viagens é a única agência de viagens em Portugal vegetariana? Pois é, temos uma preocupação com todas as todas as vertentes daquilo que consideramos ser “sustentável” e a alimentação é uma dessas vertentes. Portanto, em resultado disso, todos os programas de viagem que organizamos, no seguimento do nosso compromisso com uma Política de Turismo Responsável, incluem apenas refeições exclusivamente vegetarianas. E mais: sempre que possível, com produtos locais e da época.
Neste artigo vou explicar o porquê desta nossa decisão (a de fazermos viagens apenas vegetarianas), sobre a nossa visão a respeito da alimentação sustentável e o que é a Macrobiótica. É um post um pouco longo, mas bastante completo. Vamos a isso?
Agência vegetariana, então porquê?
- Como forma de contribuição para a protecção do nosso planeta;
- Para que haja menos fome no mundo;
- Por motivos de compaixão para com o sofrimento animal;
- Pela saúde de quem viaja connosco;
- Por um turismo cada vez mais ético e responsável.
O impacto das nossas escolhas:
Como nem todos podem não estar por dentro do impacto que cada escolha (neste caso a nível de alimentação) tem, escolhemos alguns factos para reflexão, baseados em fontes fidedignas:
- A indústria da agropecuária é uma das principais responsáveis pelas emissões de gases com efeitos de estufa.
- É necessária três vezes mais água para cultivar comida para um consumidor de carne, do que para um vegetariano.
- São criados anualmente 70 mil milhões de animais para consumo. Cada um deles produz resíduos (estrume), que emite gases tóxicos, causando mortes humanas, devastação dos solos e contaminação de águas.
- A pecuária requer, não só mais energia e mais água do que a horticultura e a fruticultura, como também exige áreas maiores. O que faz com que áreas inteiras de florestas e outros habitats naturais tenham sido arrasados e muitos animais perderam a vida.
- Mais de 30% de todas as zonas pesqueiras do mundo já viram forçados os seus limites biológicos. Muitas espécies extinguiram-se.
- Estima-se que existam 815 milhões de pessoas no mundo com fome. No total, um terço dos cereais e 90% da colheita de soja do mundo é utilizada apenas para alimentar os animais de criação. Se essas plantações fossem disponibilizadas para os Seres Humanos, a fome no mundo poderia ser erradicada hoje.
- Por hora, são mortos 6 milhões de animais para alimentar a raça humana. A maioria das pessoas não tem consciência do grau de sofrimento cruel por que passam estes animais… E quase nenhuma teria coragem de continuar com uma dieta não exclusivamente vegetal, se tivesse de o fazer com as suas próprias mãos.
- Os pesticidas usados na agricultura, são substâncias com capacidade para matar organismos, supostamente indesejáveis. Contudo, a sua natureza implica que os seus efeitos possam não se restringir às espécies indesejáveis, resultando em efeitos adversos para a saúde humana , de outros Seres Vivos e para o ambiente.
- Há estudos que comprovam que substituir proteínas animais por proteínas vegetais de qualidade diminui o risco de doenças (cardiovascular, diabetes tipo 2, cancro, etc), assim como a mortalidade.
- O principal factor de risco responsável pelo maior número de mortes em todo o mundo é uma má alimentação. Comer mal mata mais do que todos os outros factores de risco.
Assim, uma dieta de base vegetal, com produtos orgânicos e integrais, é a medida mais poderosa, ética, responsável e inteligente que se pode tomar. É mesmo, actualmente, uma questão de sobrevivência.
A nossa visão sobre a alimentação:
Faço, desde que nasci, uma alimentação tendencialmente baseada na filosofia Macrobiótica. E, desde que estamos juntos, o Igor acompanha-me. É uma alimentação muito simples, à base de produtos integrais vegetais e que considero ser mais sustentável. Em viagem, tendo adaptar-me e fazer escolhas conscientes. O que não quer dizer que seja rígida, mas, da oferta disponível, escolho aquilo que me poderá nutrir melhor, o que normalmente é aquilo que me sabe melhor (mas acredito que nem para todos seja assim).
E a Macrobiótica é óptima nisso: dá-nos indicações muito precisas e válidas sobre o que comer, em que quantidades, quais as proporções correctas para o Ser Humano e para cada condição, como combinar alimentos, como os cozinhar, etc. É um sistema com benefícios comprovados (e que cada um poderá – e deverá – comprovar em si mesmo).
Assim, segundo esta visão, uma alimentação que tenha por base produtos de origem vegetal não industrializados, integrais e orgânicos, para além de oferecer menos riscos para complicações de saúde, de ser mais nutritiva e mais ética e compassiva, como já aqui disse, é uma excelente forma de minimizar a pegada ambiental, sendo, por isso, muito mais sustentável.
Mas será o vegetarianismo, por si só, suficiente?
Não considero que o vegetarianismo seja, por si só, suficiente. Pelo contrário. Muitos vegetarianos / veganos podem fazer uma alimentação pouco saudável e sustentável, por falta de informação e de escolhas não conscientes.
Para além disso, a nível ambiental, o impacto negativo da produção massiva de certos alimentos tão em voga entre vegetarianos hoje em dia, é mesmo muito grande.
Temos por exemplo o caso do abacate, do óleo de coco, do óleo de palma, etc. A produção massiva destes produtos que são importados ou cultivados em condições intensivas, está a causar grandes problemas ambientais, de saúde e sociais.
Consumir produtos de de climas que não o nosso, não é razoável a todos os níveis. Não é uma alimentação sustentável. Todos nós (ou quase) temos, felizmente, à nossa disposição inúmeros alimentos nutritivos que suprem todas as nossas necessidades oriundos do local onde estamos.
A importância da informação fidedigna:
Actualmente existe o uso indiscriminado – e o aproveitamento, até – de palavras como Macrobiótica, Ayurveda, Saúde Oriental, Saudável, Ecológico, etc. O que muitas vezes está na origem de uma “falsa” ideia de alimentação saudável e de saúde natural, associada ao vegetarianismo e ao veganismo, causando grandes e falsas desilusões. O problema da falta de saúde não é o vegetarianismo / veganismo. O problema da falta de saúde é as escolhas que fazemos para nos nutrirmos.
Tudo o que ingerimos influencia o nosso corpo físico e os nossos estados mentais. Por isso, se estivermos nutridos e equilibrados, teremos mais tempo para nos dedicarmos ao nosso interior. É, então, de extrema importância o recurso a informação fidedigna, já que faz parte da nossa condição humana a manutenção da nossa saúde.
Estamos, nesta época do digital, sujeitos a um sem número de (des)informação, de publicidade enganosa e de comunicação não sustentada feita por “influenciadores“, marcas e meios de comunicação exclusivamente com interesses económicos e/ou egocêntricos. Por isso, é necessário cultivar a consciência e o discernimento necessário para conseguir separar o “o joio do trigo”. E recorrer a fontes de informação e credíveis e com experiência comprovada.
A Macrobiótica:
A Macrobiótica, ou a “arte de prolongar a vida”, não é um regime, é um estilo de vida sistematizado em práticas e princípios que nos ajudam a desenvolver o nosso potencial humano (físico e espiritual), de acordo com as leis da natureza, de forma sustentável, para nós, para todos os Seres Vivos e para o Planeta.
Na Macrobiótica existe uma forte foco na responsabilização inerente a cada escolha, pois cada decisão não é unilateral, nem estanque, tem resultados em nós e nos outros (e por outros, leia-se todos os Seres Sencientes, humanos e não humanos, natureza, planeta, cosmos, etc).
Assim, o conceito de Yin e Yang é central, já que se considera que todos os fenómenos têm dois pólos (incluindo os alimentos) e que o equilíbrio desses dois pólos, como numa dança, é o segredo para a saúde.
Segundo a Macrobiótica, existe portanto um modelo padrão de alimentação, uma base, que evoluiu ao longo dos tempos, adaptando-se às características da época actual. Esse modelo deve também ser adaptado às circunstâncias de cada pessoa, à sua condição de saúde no momento, às actividades que pratica, idade, sexo, local onde está etc. É, pois, apenas uma base, são directrizes.
Modelo Padrão de Alimentação Macrobiótica:
*Modelo padrão para Portugal, segundo Francisco Varatojo, o “pai” da Macrobiótica em Portugal.
- 50 a 60% da alimentação diária devem consistir de cereais integrais. Cereais integrais incluem: arroz integral, cevada, millet, aveia, milho, trigo, centeio, trigo sarraceno, couscous, boulgur, flocos de aveia, flocos de cevada, carolo de milho, massas, pão, crepes, panquecas, etc. Deve dar-se preferência a cereais integrais em grão, em particular se existirem problemas de saúde sérios. Isto porque os cereais sob a forma de farinha são mais difíceis de digerir. Para além disso, as farinhas ao oxidarem perdem muitas das propriedades originais do cereal em grão.
- Sopa deve ser consumida 1 a 2 vezes por dia. As sopas são em geral de vegetais. Mas podem também incluir cereais, leguminosas e algas. Uma sopa particularmente aconselhada é a sopa de Miso ou sopa de pasta de soja, devido aos efeitos benéficos que o miso tem na reconstrução da flora intestinal.
- 25 a 35% incluem os mais diversos vegetais (para além dos vegetais utilizados nas sopas). Os vegetais devem ser cozinhados de diferentes formas. É importante que alguns sejam bem cozinhados e outros levemente cozinhados ou consumidos sob a forma de salada crua. Vegetais para uso diário incluem: cebolas, cenouras, abóbora, brócolos, couve, agrião, nabos, couve de bruxelas, cogumelos, germinados, nabiças e muitos outros. Vegetais como batatas, tomates, seringadelas são geralmente desaconselhados. Ou devem ser utilizados muito ocasionalmente e apenas se se gozar de boa saúde.
- 10 a 15% da alimentação consiste de leguminosas, derivados das leguminosas e algas. As leguminosas incluem: grão de bico, lentilhas, feijão azuki, feijão frade, feijão catarino, feijão manteiga e todos os feijões disponíveis nos diversos climas. Derivados das leguminosas como tofu, tempeh, natto, seitan (neste caso derivado do trigo, mas sendo um alimento com alto teor proteico é incluído neste capítulo) podem e devem também ser usadas regularmente. As algas foram durante muitos anos utilizadas em diferentes culturas e utilizam-se em pequena quantidade neste regime. Devem ser cozinhadas em conjunto com os vegetais, leguminosas ou cereais. As algas para uso regular têm nomes como wakame, kombu, aramé, hiziki, nori entre outras.
Para além dos alimentos mencionados nas alíneas acima, a alimentação Macrobiótica Padrão inclui em quantidades variáveis os seguintes alimentos.
- Sementes e oleaginosas – sementes de sésamo, de abóbora, de girassol, amendoins, amêndoas, pinhões e nozes.
- Frutos da estação e da área geográfica em que vivemos – maçãs, pêras, morangos, castanhas, pêssegos, melão, melancia, uvas, etc.
- Pequena quantidade de peixe, preferencialmente de carne branca – pescada, linguado, robalo, cherne, dourada, tamboril entre muitos outros.
- Bebidas diversas, em especial chás tradicionais, cafés de cereais, sumos de vegetais ou de frutos. Se se gozar de boa saúde ou em situações especiais, uma pequena quantidade de bebidas alcoólicas como cerveja, vinho ou whisky de malte é aceitável.
- Óleos e temperos como óleo de sésamo, de girassol, de milho, azeite e temperos como vinagre de arroz, vinagre de ameixa, gengibre, algumas ervas aromáticas, entre outros. Os óleos devem ser de primeira pressão a frio e não extraídos a altas temperaturas com solventes químicos à base de petróleo (a maioria dos óleos no mercado).
- Condimentos para uso de mesa, se bem que utilizados em quantidades mínimas, são bastante importantes em especial havendo problemas de saúde. Os condimentos principais são gomásio (sementes de sésamo com sal), umeboshi (pickle de ameixa), tekka (condimento produzido a partir de diferentes raízes), sementes de sésamo, condimento de cebolinho, entre outros.
Na prática Macrobiótica considera-se que os alimentos a evitar ou a usar muito esporadicamente são: carnes vermelhas ou brancas, ovos, produtos lácteos, açúcar, vegetais e frutos de origem tropical, café e chá preto, alimentos refinados e quimicalizados.
Parte integrante do regime macrobiótico é a culinária; o modelo alimentar aqui descrito é extremamente saboroso, versátil e variado, se a prática culinária for apropriada. E pode ser bastante sensaborão se não for bem confeccionado. É aconselhável assistir a aulas de cozinha, consultar livros de culinária e pedir ajuda a pessoas mais experientes, caso deseje fazer uma alimentação deste tipo.
Em qualquer dos casos, começar a utilizar diariamente cereais integrais, vegetais e leguminosas na alimentação, pode seriamente contribuir para uma melhoria da sua saúde e qualidade de vida.
A Alimentação Macrobiótica Padrão preenche os requisitos nutricionais das principais organizações nutricionais mundiais e está de acordo com as linhas gerais no que toca à prevenção de cancro e doenças cardiovasculares.
Nota: A macrobiótica não é uma dieta vegan, embora o único produto recomendado seja peixe branco e em pequena quantidade (uso esporádico), não se usam latrocínios e ocasionalmente se possa ingerir um ovo, caso seja necessário. Há, no entanto, muitos praticantes de macrobiótica que não usam nenhum produto de origem animal, por compaixão animal, fazendo Macrobiótica Vegan. Nesse caso, pode ser necessária suplementação da vitamina B12.
Alimentação sustentável em viagem:
Durante as viagens que organizamos todas as refeições que oferecemos são vegetarianas, tradicionais e sempre que possível com produtos locais e sazonais. Isto numa aproximação (possível) ao estilo de vida e alimentação que seguimos em casa. No entanto, estamos fora de casa e do nosso país, não é possível fazer uma Alimentação Macrobiótica Padrão. Ainda assim, temos alguns cuidados para que a alimentação que oferecemos seja o mais sustentável possível, respeitando os princípios da Macrobiótica, mas sem nos esquecermos de dar algum conforto a quem viaja connosco:
- Pedimos aos nossos fornecedores que façam alterações aos menus para que estes sejam mais saudáveis (dentro do que está ao alcance deles);
- Privilegiamos sempre refeições tradicionais com produtos locais e sazonais;
- Incluímos apenas água, sumos naturais ou chá e não refrigerantes às refeições;
- A maioria das refeições são à base de cereais em grão (especialmente arroz), legumes locais, frutas e leguminosas (especialmente lentilhas e grão-de-bico), o que consideramos que deve ser a base da alimentação humana.
Temos a consciência de que estamos a comer fora – o que é sempre muito menos saudável do que em casa – e que muita da sabedoria destes países, tal como aconteceu por cá, foi-se perdendo. Ainda assim, nos países para onde organizamos viagens há um grande e sustentado conhecimento milenar de saúde e alimentação. Aliás, esses conhecimentos são a base da medicina moderna. Nestes países, mesmo em famílias não vegetarianas, a quantidade de alimentos de origem animal é muito inferior ao praticado no ocidente, estando sempre presentes os cereais, leguminosas e vegetais.
Curiosamente, a maioria das pessoas que viaja connosco, não faz uma alimentação tendencialmente vegetariana, muito menos Macrobiótica. Mas para todas as pessoas que já viajaram connosco – até para as inicialmente com mais receios -, este tipo de alimentação, tem sido uma boa experiência. E é uma excelente oportunidade de contactarem com outros sabores e formas de conjugar e combinar alimentos.
Tentamos que a alimentação que proporcionamos a quem viaja connosco seja o mais saudável, ética, sustentável e compassiva possível. Mais não seja, durante os dias de viagem, fazer uma alimentação vegetariana, com privilégio de produtos locais e sazonais, já faz uma grande diferença a todos os níveis. E, quem sabe, se não fica a semente para uma alimentação mais sustentável.
Fontes e leituras recomendadas:
Recomendamos vivamente que aprofundem este tema. Aqui encontram algumas sugestões para leitura, documentários e fontes que para nós são interessantes e credíveis.
Leituras sobre Macrobiótica:
- Macrobiótica Zen – George Ohsawa
- Livro da Macrobiótica, via universal para a Saúde e Felicidade – Mishio Kushi
- Mente Sã em Corpo São – Francisco Varatojo
- Os Alimentos também curam – Francisco Varatojo
- Cardernos Macro (distribuídos pela Próvida) – Francisco Varatojo
- Comida Macrobiótica para toda a família – Geninha Varatojo
- O Livro de Cozinha da Marta – Marta Horta Varatojo
- Vários artigos: https://www.institutomacrobiotico.com/pt-pt/imp/artigos-imp
Documentários sobre a indústria da carne:
- Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade
- Terráqueos
- Dominion